Olá! Para deixar bem claro como funciona o Dicionário de Poética e Pensamento, criamos este breve tutorial. Confiram!

Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Poética

Ainda que busque, em sua atuação, ultrapassar os limites acadêmicos e institucionais, o NIEP está vinculado à Área de Poética, que faz parte do Programa de Pós-graduação do Departamento de Ciência da Literatura, da Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seus membros ainda são em sua maioria alunos de graduação e pós-graduação, pesquisadores e professores da referida faculdade, mas não se restingem a ela. Hoje já participam de nosso projeto alunos e professores das Faculdades de Dança, de Filosofia e de Ciências Sociais da UFRJ, além de professores da Universidade Federal do Pará, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Universidade Federal de Goiás.

A poética e a universidade
A origem da poética remonta às reflexões filosóficas platônicas e sobretudo aristotélicas acerca da experiência de pensamento realizada pelas diferentes realizações artísticas. O fato determinante de tais reflexões filosóficas é que elas nascem das obras poéticas já existentes, originando-se aí a prática inter-disciplinar mais antiga que se conhece. O traço determinante dessa reflexão interdisciplinar consiste no fato de que não é um pensamento filosófico que pensa sobre as obras já existentes, mas é um pensamento que pensa com as obras, isto é, um diálogo criativo tanto para a experiência de pensamento filosófico como para a experiência de pensamento mito-poético-artístico. Por isso a Poética é originária e necessariamente inter-disciplinar.
No início do terceiro milênio, depois de dois mil e quinhentos anos, a inter-disciplinaridade se tornou hoje a grande questão para a Universidade, tendo em vista o redesenho de seu lugar numa realidade em profunda transformação, frente a um modelo de universidade já esgotado.
Diante dessa realidade, a criação do NIEP cumpre um duplo papel.
1º. Numa universidade estruturada em disciplinas isoladas, mas exigindo concretamente uma interdisciplinaridade efetiva, o projeto do núcleo e a sua efetiva implementação constitui-se numa nova práxis dentro da universidade. A convivência e cooperação de diferentes disciplinas em atividades de ensino, pesquisa e extensão já trazem em si um horizonte de experimentação em que pode ser repensada a atual universidade.
2º. A implementação do núcleo pode tornar-se um micro-modelo de reorganização e concepção de uma nova universidade. Nele poderemos ter como que um espelho concreto de como poderia ser uma universidade concebida como uma grande rede, em que os diferentes nós seriam os núcleos.
Tendo isso em vista, o núcleo tem uma dupla finalidade: fecundar e ampliar as atividades da Área de Poética na concepção maior de núcleo e, experimentalmente, tornar-se o protótipo de organização de uma nova universidade em núcleos interdisciplinares.

A interdisciplinaridade
A Área de Poética, pela própria natureza indicada no nome, constitui-se e abre-se a uma necessária interdisciplinaridade. Fique logo claro que Poética, reflexão sobre as obras de arte quase três vezes milenar, não indica de maneira alguma algo normativo, mas uma indagação e questionamento dos diferentes fazeres artísticos enquanto poiesis e linguagem, como essência e sentido do agir. Neste sentido, ela se abre e atua dentro e a partir das diferentes linguagens artísticas. E esse passa a ser o seu núcleo e elo comum.
Não seguindo os paradigmas nem filosóficos nem científicos, volta-se para o próprio fazer poético, implícito às próprias obras e questões da arte, porque essencial a todo agir humano. Por isso, trabalha sempre com questões e nos interstícios dos conceitos.
Parte, em vista disso, do círculo poético-ontológico, onde a interpretação se processa num diálogo com a obra de arte. Por isso mesmo articula-se criticamente em torno das diferentes hermenêuticas dialógicas: poética, mítica, filosófica, teológica, jurídica e ontológica. A hermenêutica da poiesis se tece, então, como uma ontopoética. Com isso, abre muitas possibilidades de diálogos interpretativos inaugurais. Fugindo a qualquer reducionismo analítico, explicativo e formal, contribui para a renovação do estudo, ensino e pesquisa das diferentes artes, ao configurá-las dentro do horizonte do sentido da linguagem e da poiesis, enquanto sentido do agir. Na medida em que se centraliza na verdade da obra enquanto linguagem e poiesis, funda-se num acontecer ético que tem como horizonte tanto um aprendizado como uma aprendizagem, ou seja, tanto um conhecimento como uma sabedoria.
Sem dúvida nenhuma a universidade do futuro será a universidade da interdisciplinaridade, tendo em vista a rápida expansão, em proporção geométrica, dos conhecimentos, as transformações radicais e revolucionárias dos meios de transmissão e de acumulação. O modelo da pesquisa de conhecimentos por disciplina, baseado num método de objetos bem definidos e precisos, dá lugar aos trans-limites das disciplinas, uma vez que a complexidade da realidade exige espaços de interconexões e de pesquisa de interstícios de que as disciplinas isoladamente não conseguem mais dar conta. O paradigma de conhecimento da realidade por segmentação produziu já seus frutos, mas a especialização aprofundada mostrou a insuficiência de tal paradigma e aponta já efetivamente para um paradigma interdisciplinar.
Isso já é largamente praticado nas chamadas ciências em geral. Por influência do paradigma do século XIX, dominante nos estudos das artes, a interdisciplinaridade ainda não encontrou um lugar destacado nos estudos poético-artísticos. Em parte, isso também se deve à especificidade das obras de arte. Em relação a elas, a interdisciplinaridade toma dimensões completamente novas.
Partindo dessa constatação e realidade inegável, a Área de Poética já vem implementando, na prática, uma efetiva interdisciplinaridade. Mas agora quer de alguma maneira, através de uma institucionalização acadêmica, ampliar essa atuação, com as seguintes tarefas:
1ª. Promover uma reflexão teórico-prática contínua sobre a interdisciplinaridade em suas dimensões poéticas, tendo em vista uma nova visão da universidade e de seu diálogo com a nova sociedade em gestação;
2ª. Ampliar na universidade sua atuação interdisciplinar, através de cursos, troca de experiências, publicações, encontros etc. Isto será facilitado e viabilizado pelo fato de que já se formaram doutores e mestres na Área de Poética que hoje estão atuando em outras universidades do Brasil. Nesse sentido, pretende-se formar uma rede de atuação;
3ª. Promover uma renovação do ensino e aprendizado, tanto metódico como teórico, tendo em vista a compreensão profunda da natureza especial das obras de arte, abandonando o paradigma cientificista e representacional do século XIX, que hoje nem a própria ciência mais avançada segue;
4ª. Propor nas suas linhas de pesquisa possibilidades de projetos, dentro dessa nova reflexão, que unam a renovação teórica com um profundo e amplo estudo das obras de arte, com ênfase na produção de pensamento poético em cultura de língua portuguesa. De maneira alguma isso significa um nacionalismo passadista, mas tem o objetivo de, pelo diálogo com todas as obras de artísticas de pensamento, dar um lugar a nossa produção de pensamento poético.
A Área de Poética tem aberto possibilidades novas de formação e de pesquisa para alunos provenientes de música, filosofia, teatro, dança, arquitetura, além da hermenêutica poético-ontológica de diferentes literaturas, ensinadas nas Faculdades de Letras. 

A tarefa da poética
O que tem possibilitado esta interdisciplinaridade efetiva se dá em dois sentidos. Pelo primeiro promove-se um questionamento do ensino tradicional em suas dicotomizações, trazendo para cena e para debate concepções e conceitos tradicionais. Deste questionamento surgem novas possibilidades de configuração e concepção do ensino de tais disciplinas, desencadeando uma revolução na visão, ensino, prática e pesquisa de tais disciplinas. Pelo segundo, traz para o centro do debate duas questões centrais: a linguagem e a poiesis. Distinguindo linguagem de meras técnicas conceituais e operacionais, funda a linguagem na poiesis, perfazendo um todo essencial indiscernível. Para isso toma-se a poiesis em seu sentido grego original: ação, essência do sentido do agir ontopoético, do fazer artístico. Nesta perspectiva, a linguagem se distingue da técnica e se realça o aspecto criativo e inaugural de todo fazer artístico, sem, no entanto, abrir mão do domínio técnico, mas lendo-o como linguagem técnica, no horizonte criativo da poiesis. Nesse sentido, cada técnica, correspondente a cada disciplina, se torna uma língua de fala, expressão e execução artística. 
Se nas ciências em geral o inter- da palavra interdisciplinaridade indica muito mais o entre-laçamento de disciplinas, nos estudos artísticos o inter quer chamar a atenção para a identidade em tensão com as diferenças, ou seja, tomando a interdisciplinaridade como uma rede, nas realizações artísticas, o acento não será só nas linhas e nós da rede, mas também no vazio dos buracos. Aí o vazio é o silêncio criador da fala da linguagem, ou seja, a identidade concreta de todas as artes.
Nesse novo horizonte de atuação, a Área de Poética tem promovido essa renovação que congrega todas as linguagens poéticas, como concretização da poiesis. Se a técnica como língua centraliza-se no significado, a linguagem da poiesis realiza mais o sentido. É necessário ultrapassar o campo epistemológico, fundador das disciplinas, e se abrir para o campo poético-ontológico, fundador do inter de toda disciplina.

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